"E o fato é que aqueles tres casinhas, tão engenhosamente construídas, foram o ponto de partida do grande cortiço da São Româo.
-Estalagem de São Romao. Alugam-se casinhas e tinas para lavadeiras-”
"Mas o que tornaria o Arpoador infrangível na lembrança dos que o frenquentam era a teoria de corpos jovens a desfilar em suas areias, no cenário de uma eflorescência sempre cambiante, com a água, a nuvem e o som surdo se atando e desatatando continuamente."
"Assistindo a um desfile de escolas de samba, espectáculo maravilhoso de ritmo, som e colorido, X teve a sensação de dissolver-se na multidão, e por duas horas não existiu em si, mas no grupo."
"Tem dias que olho / os negros espalhados /pelas
calçadas da Lapa / (Sou eu? Sou eu?) / bêbados, fétidos, / com os culhões
vazando /pelas calças rasgadas... / (ai de ti Zumbi! Ai de ti Zumbi!)"
"Disfarçando na vida
Perdi mais da metade
De meus mitos"
"Im ersten Fussballjahrzent gab es noch keine kostengünstigen
Stehplätze, und so beobachteten weniger gut situierte Fans die Partien von den
Hügeln und Dächern rund um die Stadien."
"Para baixo, os jardins sucessivos da praça até ao cais, sob o permanente espasmo de um estendal de lâmpadas elétricas - tantas que na poeira azul da luz os transeuntes se destacavam ao longe como vistos por um binóculo de teatro."
"A hora da noite nas cidades. Nas calçadas uma dupla fila de transeuntes sempre a renovar-se, o cinema colossal de homens das classes mais diversas, operários e dândis, funcionários públicos e comerciantes..."
"Oito horas da manhã. A cerração ainda envolve tudo. O mar está silencioso: há grandes intervalos entre o seu fraco marulho. Vê-se da praia um pequeno trecho, sujo, coberto de algas, e o odor da maresia parece mais forte com a neblina. Para a esquerda e para a direita, é o desconhecido, o Mistério. Entretanto, aquela pasta espessa, de uma claridade difusa, está povoada de ruídos."
"... e o domingo aparecia assim decorado com a simplicidade dos humildes, com a riqueza dos pobres..."
"O lugar era cômodo e agradável. Dava para a enseada, e se avistava doutra banda Niterói e os navios livres que se iam pelo mar em
fora, orgulhosos de sua
liberdade, mesmo quando tangidos pelos temporais. Às vezes, lendo, eu me punha a vê-los, com inveja e muita dor na alma. Eu estava preso, via-os por entre as grades e sempre sonhei ir por aí
afora, ver terras, coisas e gentes..."
"Quando não estávamos com a família ou com amigos, ou se não íamos
a algum espetáculo ou serão particular (e estes eram raros) passávamos as
noites à nossa janela da Glória, mirando o mar e o céu, a sombra das montanhas e dos navios, ou a gente que passava na praia."
"Mostre a sua arma, pediram, adoravam ver metralhadoras, as crianças do Berimbau. Miltão as habituara a isso. Sempre distribuia balas Rin Tin Tin, o traficante, e as divertia, mostrando seu arsenal."
"Reizinho caminhando. Observando. Mulheres gordas. Na favela, os meninos são muito magros e as adolescentes, gordotas. As mulheres são obesas e os homens ventrudos. É a regra."
"Os adolescentes utilizavam-se da fama negativa da favela onde haviam morado para intimidar os outros, em caso de briga ou até mesmo nos jogos...Quanto maiora periculosidade da favela de origem, melhor era para impor respeito..."
"Os novos moradores levaram lixo, latas, cães vira-latas, exus e pomba
giras em guias intocáveis, dias para se ir a luta, soco antigo para ser
descontado, restos de raiva de tiros, noites para velar cadáveres, resquícios de enchentes, biroscas, feiras de quartas-feiras e as de domingos, vermes velhos em barrigas infantis,
revólveres,
orixás enroscados em pescoços, frango de despacho, samba de enredo e sincopado, jogo do bicho, fome, traição, mortes, jesus christos em cordões arrebentados,
forró quente para ser dançado..."
"Desceu a São Cláudio, pegou a Maia Lacerda, chegou ao Bar do Apolo, onde estavam Silva, Bastos, Bide, Edgar, Baiaco e Lopes. Acompanharam em caixa de fosforos, nas garrafas de pinga ou na mesa um novo samba de Silva e Bastos."
"Numa tarde dessas no domingo, Silva saiu de casa admirando a beleza de tudo. Tinha a mania de olhar o detalhe mais linda de cada coisa, fosse pessoa, planta, casa recém-feita nas ruas do bairro, a molecada em brincadeiras..."
"Cidade de sonho e grandeza
Que guarda riqueza
Na terra e no mar
Cidade do céu sempre azulado,
Teu Sol é namorado
Da noite de luar"
"A tudo isso se junta o fato de se transformar a cidade com uma rapidez espantosa, de ano para ano, mesmo de mês para mês. O tempo e o
espaço têm na América outra medida dinâmica. Aqui todas as coisas se
desenvolvem mais rapidamente e, sem dúvida, também envelhecem mais depressa."
"Por toda parte acontece alguma coisa, por toda parte há cor, luz e movimento, nada se repete, nada combina e, não obstante isso, tudo é acorde."
"Oxalá ainda a última hora aparecesse um pintor, a fim de retratar essas ruas, quando elas à noite brilham com luzes verdes, vermelhas, amarelas e
brancas e sombras fugitivas, constituindo um espetáculo oriental, misterioso pelos destinos
acorrentados uns aos outros e semelhante ao qual não vi outro em toda minha vida."
"Quanta vida nesses milhares de ruas e quanta vida em início — por toda a parte crianças, crianças de todas as tintas e mesclas, e todo esse
tumulto de cores e de
movimentos atenuado por uma afabilidade tranqüila, por uma perfeita harmonia."
"E a partir de novembro, o Rio torna-se uma praia balneária; das ruas próximas do mar as pessoas vão em trajes de banho, uma ou duas vezes por dia, refrescar-se no mar; às cinco horas da manhã, antes de tomarem café ou irem para o trabalho, vão as primeiras pessoas para a praia."